Afinal, por que preciso de um Psicólogo para fazer a cirurgia Bariátrica?
- Camila Pescuma
- 14 de jun. de 2022
- 4 min de leitura

Se você é candidato(a) ou conhece alguém que está passando pelo processo da Cirurgia Bariátrica, já deve ter se perguntado: “Por que é preciso passar por um psicólogo antes de me submeter a cirurgia? Como funciona esse processo?”. Esse é o assunto deste artigo, mas antes vamos a alguns dados sobre a obesidade?
DADOS SOBRE OBESIDADE E CIRURGIA BARIÁTRICA
Segundo o levantamento da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica – SBCBM, a cada 100 habitantes no país, 50 estão acima do peso. Entre estes, 16 enfrentam a balança e não conseguem retomar a forma e nem melhorar os hábitos alimentares. Quando considerados os casos que demandam intervenção cirúrgica, o Brasil já é o segundo país que mais realiza a cirurgia e – muito em breve - pode vir a ser o primeiro.
A obesidade, sendo uma doença com tantas causas multifatoriais, tem como consequência variadas comorbidades associadas e passa então, a ser considerada um problema de saúde pública uma vez que metade da população do país já está acima do peso. Segundo a Organização Mundial de Saúde, há uma projeção de que em 2025 teremos mais de 2,3 bilhões de pessoas com excesso de peso no mundo. Considerada uma doença crônica, a obesidade também é um fator de risco para o desenvolvimento de mais de mais 39 doenças associadas.
A obesidade é uma epidemia que traz riscos de doenças físicas, psíquicas (baixa autoestima, depressão, ansiedade, alterações do comportamento alimentar) e problemas sociais e a cirurgia bariátrica é uma opção de tratamento que, quando bem indicada, pode levar a uma melhora grande das comorbidades relacionadas. Desta forma, o atendimento psicológico e em conjunto com uma equipe multidisciplinar vai muito além da aprovação e do laudo, o trabalho do Psicólogo também é sensibilizar e psicoeducar o paciente quanto ao processo visto que se trata de um procedimento que exige grandes mudanças e adoção de novos hábitos.
COMO O PACIENTE CHEGA ATÉ O ATENDIMENTO PSICOLÓGICO ANTES DA CIRURGIA BARIÁTRICA?
A obesidade é limitadora e atrelada aos estereótipos apontados e julgado pela sociedade atual é capaz de fazer com que estes pacientes cheguem ao consultório com inúmeras doenças de ordem emocional.
As doenças associadas à obesidade também tornam os pacientes dependentes e – muitas vezes - com difícil mobilidade e sustento. Por consequência, isso também gera muitos sentimentos, como o de exclusão em situações sociais (Já imaginou não passar na roleta do ônibus? Ou não caber em uma poltrona de avião?), baixa autoestima, desejo da perda de peso para resolução de outros tipos de sofrimentos (amarrar o sapato ou encontrar roupas), tentativas frustradas de perda de peso, culpabilização pelos fracassos (ainda mais pelo estereotipo da sociedade em relação à obesidade, o de que a pessoa obesa “não faz por onde”). Todas estas situações fazem com que o paciente obeso chegue ao consultório em estado depressivo, ansioso, muitas vezes com conflitos interpessoais e conjugais.
A psicologia então vai ajudá-lo a descontruir este estereótipo e sessar estes sentimentos para melhorar todas as questões emocionais envolvidas em casos de obesidade.
O PAPEL DO PSICÓLOGO NO PRÉ CIRURGICO
O papel do Psicólogo começa na avaliação pré-operatória, onde vai entender se o paciente está preparado para se submeter a este processo. Mas veja: o atendimento vai muito além de uma indicação ou contraindicação ou da emissão de laudos favoráveis ou desfavoráveis. Seu papel é de facilitador, ajudando na adesão ao tratamento e envolve um atendimento com acolhimento, escuta e muita avaliação do repertório comportamental e emocional para o enfrentamento da cirurgia bariátrica uma vez que vai mudar completamente a sua vida em vários aspectos: peso, imagem corporal, alimentação, saúde, rotina, hábitos alimentares e hábitos de vida.
O fato de que as pessoas que se submetem à Cirurgia Bariátrica possuem em sua linha de vida um “evento” que muda a sua imagem corporal e a maneira como sociedade o enxerga, por este motivo, trabalhar as questões emocionais antes da realização do procedimento é importante, uma vez que para o sucesso da cirurgia e para chegar no resultado esperado é necessário o comprometimento do paciente por longo prazo.
A terapia pré-cirúrgica envolve trabalhar questões emocionais do paciente uma vez que o que mais faz desenvolver a obesidade em 60% das pessoas que possuem a doença, está ligada a algum desencadeador emocional. A promoção do autoconhecimento vai possibilitar que o paciente consiga mapear as suas potencialidades e enxergar novas formas de lidar com a frustração e outros sentimentos associados à fome emocional, a autoimagem, a autoestima e ao autocuidado, promovendo, por fim, uma nova forma do paciente se relacionar consigo mesmo e com os outros.
O PSICÓLOGO NO PÓS OPERATÓRIO
O final do processo psicológico não é só na entrega do laudo, existem muitos outros temas que podem ser trabalhados no pós operatório.
O período pós-operatório é o que demanda mais atenção por ser o momento em que o paciente está mais fragilizado, fisicamente e emocionalmente. É o começo de uma nova fase, e o acompanhamento não é obrigatório uma vez que a experiência pós cirúrgica vai ser única para cada pessoa, porém a terapia tem o objetivo de identificar possíveis estressores e promover melhor adaptação do paciente ao longo de sua recuperação.
Existe um campo bem amplo que pode ser trabalhado neste momento: as primeiras mudanças ocorrem logo após o cirurgia devido ao trauma cirúrgico e às restrições calóricas abruptas e os primeiros meses após a cirurgia são de adaptação, ou seja, o paciente não tem mais fisicamente o mesmo estômago e – consequentemente – não é mais possível comer como antes e a relação com os alimentos no começo estará muito diferente do habitual.
Sendo assim, a terapia também busca mudar os significados da alimentação e da forma de se alimentar e envolve traçar estratégicas para que o paciente enfrente as mudanças provocadas pela cirurgia, facilitar a adesão aos novos hábitos e garantir o sucesso da cirurgia longo prazo, uma vez que não depende apenas da técnica cirúrgica, mas sim da capacidade do paciente em se adaptar a longo prazo a estas mudanças.
REFERÊNCIAS
DE MELO, Maria Edna. Doenças Desencadeadas ou Agravadas pela Obesidade. Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica ABESO, 2011. Disponível em: https://abeso.org.br/wp-content/uploads/2019/12/5521afaf13cb9.pdf. Acesso em: 14, Janeiro, 2021.
Os últimos números da obesidade. ABESO, 2020. Disponível em: <https://abeso.org.br/os-ultimos-numeros-da-obesidade-no-brasil/>. Acesso em: 08, Janeiro, 2021
Sichieri R. Epidemiologia da obesidade. Rio de Janeiro: UERJ; 1998. 140p.
World Health Organization. Obesity: Preventing and managing the global epidemic. Report of a WHO Consultation on Obesity. Geneva; 1998.
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